Artigos | Postado no dia: 22 outubro, 2024
Direitos autorais e streaming: tudo o que você precisa saber

Nos últimos anos, o consumo de conteúdo digital por meio de plataformas de streaming cresceu de forma exponencial no Brasil e no mundo. Serviços como Spotify, Netflix, Amazon Prime Video e YouTube se tornaram centrais na distribuição de músicas, filmes, séries, podcasts e outros tipos de mídia.
No entanto, essa expansão traz à tona questões complexas sobre direitos autorais, principalmente no que diz respeito à remuneração de criadores, uso de obras protegidas e a correta aplicação das normas de proteção autoral em um ambiente digital. Neste artigo, abordaremos os principais pontos relacionados aos direitos autorais nas plataformas de streaming, considerando o cenário jurídico brasileiro e como as leis de direitos autorais se aplicam nesse contexto.
O marco legal dos direitos autorais no Brasil
A legislação brasileira que rege os direitos autorais é a Lei nº 9.610/1998, que protege as criações intelectuais de natureza artística, literária e científica. Essa lei abrange desde obras musicais, audiovisuais, literárias até programas de computador, assegurando ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor de suas criações, seja por meio de reprodução, distribuição ou transmissão.
Nas plataformas de streaming, a lei se aplica diretamente, já que a disponibilização de conteúdo em redes digitais implica a reprodução e a distribuição da obra protegida. Isso significa que, para que uma obra seja disponibilizada em uma plataforma de streaming, é necessário que o titular do direito autorize essa utilização, ou que existam contratos que regulamentem o uso da obra, conforme os termos estabelecidos pelo detentor dos direitos.
Distribuição de direitos e remuneração em plataformas de streaming
Um dos pontos de maior discussão no ambiente de streaming é a forma de remuneração dos criadores e titulares dos direitos autorais. Para conteúdos musicais, por exemplo, as plataformas de streaming pagam royalties com base no número de reproduções das músicas.
Para as obras audiovisuais, como filmes e séries, a questão é um pouco mais complexa. As plataformas geralmente negociam diretamente com os produtores ou detentores dos direitos, estabelecendo contratos que podem envolver a aquisição temporária de direitos de exibição ou licenciamento exclusivo por um período. No Brasil, essa prática é regulamentada pela Lei de Direitos Autorais, que estabelece a necessidade de que esses contratos sejam claros quanto à remuneração e às formas de utilização das obras.
O papel das organizações de gestão coletiva
No Brasil, entidades como o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) desempenham um papel fundamental na proteção dos direitos autorais musicais, realizando a arrecadação de direitos e distribuindo os valores aos titulares. As plataformas de streaming, ao utilizar músicas, devem pagar ao ECAD uma quantia que é, posteriormente, repassada aos compositores, intérpretes e produtores.
No entanto, o funcionamento dessas entidades, especialmente no ambiente digital, vem sendo alvo de críticas, com muitos autores reclamando da baixa transparência na divisão de valores arrecadados e na forma como esses são distribuídos entre os artistas. Esse cenário vem impulsionando a discussão sobre a necessidade de reformas nas entidades de gestão coletiva e na adaptação das suas práticas ao mundo digital.
Direitos autorais e conteúdos gerados por usuários
Outro aspecto relevante das plataformas de streaming é o conteúdo gerado pelos usuários (UGC – User-Generated Content). Plataformas como o YouTube permitem que qualquer pessoa faça upload de vídeos, músicas ou outros tipos de mídia, o que pode levar à utilização não autorizada de obras protegidas por direitos autorais.
A Lei de Direitos Autorais brasileira, em seu artigo 5º, inciso VII, considera violação de direitos autorais a reprodução não autorizada de obras. Assim, a plataforma e o usuário que fizer upload de uma obra protegida podem ser responsabilizados, tanto civil quanto criminalmente, pela utilização indevida. Para se proteger de possíveis violações, plataformas como o YouTube adotaram mecanismos de Content ID, que permitem que os detentores de direitos reclamem a propriedade sobre o conteúdo e solicitem a retirada ou a monetização do vídeo.
Mudanças no cenário do direito digital e novas perspectivas de regulamentação
O cenário do direito que abarca o direito digital vem passando por transformações significativas, impulsionado pela evolução constante das tecnologias e o aumento da produtividade digital. À medida que novas situações surgem, como a disseminação de conteúdos em plataformas online, a proteção de dados e a utilização de inteligência artificial, debates e discussões se intensificam sobre o que pode ser considerado justo ou injusto no ambiente digital.
Com isso, o novo Código Civil brasileiro promete trazer um capítulo dedicado ao direito digital, o que pode representar um avanço importante. A expectativa é que essas novas regulamentações ajudem a aparar algumas arestas que ainda existem, proporcionando um maior equilíbrio entre os interesses de criadores, consumidores e plataformas digitais, além de contribuir para um ambiente jurídico mais adaptado à era digital.
Conclusão
Os direitos autorais no ambiente das plataformas de streaming no Brasil são uma questão de crescente importância e complexidade. Embora a legislação existente proteja os autores, os modelos de remuneração e a gestão coletiva de direitos precisam de ajustes para acompanhar as inovações tecnológicas e o crescimento do consumo digital.
Este texto tem caráter meramente informativo e não deve ser considerado como substituto de uma consulta com um advogado devidamente qualificado para obter orientações precisas e adequadas à sua situação específica. Caso haja dúvidas, não hesite em entrar em contato conosco. Estamos disponíveis para auxiliá-lo.